PARA PENSAR...

Se a atualização sempre é necessária para todo profissional, é mais ainda no caso dos professores latino-americanos de hoje. (Lerner)

segunda-feira, janeiro 12

EJA e o processo de alfabetização utilizando jogos pedagógicos

Dileuza Maria
Leda Cristina
Lívia Maria
Maria de Fátima
Selma Cristina
CAPÍTULO I - Uma proposta

Destaca-se o valor educativo do diálogo e da participação, a consideração do educando como sujeito portador de saberes, que devem ser reconhecidos.

Observa-se que, os educadores se ressentem de um marco global que os ajude a articular as inovações metodológicas e temáticas numa proposta abrangente e coerente. É exatamente um marco global que se quis estabelecer nesta proposta, esperando que ele encoraje os educadores a implementar programas de educação de jovens e adultos e a trabalhar pela sua qualidade.

Muitos professores que integram os programas de educação de jovens e adultos têm ou já tiveram experiências com ensino regular infantil, sendo assim: Os métodos e conteúdos da educação infantil servem para os jovens e adultos? Quais as especificidades dessa faixa etária?

A Constituição Federal de 1988 estendeu o direito ao ensino fundamental aos cidadãos de todas as faixas etárias, o que nos estabelece o imperativo de ampliar as oportunidades educacionais para aqueles que já ultrapassaram a idade de escolarização regular. Além da extensão, a qualificação pedagógica de programas de educação de jovens e adultos é uma exigência de justiça social, para que a ampliação das oportunidades educacionais não se reduza a uma ilusão e a escolarização tardia de cidadãos não se configure como mais uma experiência de fracasso e exclusão.

Em que consite a proposta

As orientações curriculares não constituem propriamente um currículo, muito menos um programa pronto para ser executado. Trata-se de um subsídio para a formação de currículos e planos de ensino, que devem ser desenvolvidos pelos educadores de acordo com as necessidades e objetivos de seus programas.

A educação de jovens e adultos correspondente a esse nível de ensino caracteriza-se não só pela diversidade do público que atende e dos contextos em que se realiza, como pela variedade dos modelos de organização dos programas, mais ou menos extensivos.

Como qualquer proposta curricular, esta não surge do nada; sua principal fonte são práticas educativas que se pretende generalizar, aperfeiçoar ou transformar.

Para cada área, são definidos blocos de conteúdos com um elemento de tópicos a serem estudados. Para cada tópico, há um conjunto de objetivos didáticos, que especificam modos de abordá-los em diferentes graus de aperfeiçoamento, pelo seu grau de especificidade, esses objetivos oferecem também muitas pistas sobre atividades didáticas que favorecem o desenvolvimento dos conteúdos.

Os objetivos didáticos referem-se à aprendizagem de conteúdos de diferentes naturezas. Predominantemente, eles se referem a conteúdos de tipo procedimental, ou seja, ao aprender e fazer. Referem-se também à aprendizagem de fatos e conceitos que os educadores terão oportunidade de conhecer. Conteúdos referentes a atitudes e valores dada a sua natureza, estão melhor contemplados nos objetivos gerais ou seja de área; ainda assim, nos casos pertinentes, objetivos atitudinais foram relacionados também a tópicos de estudos específicos.
Propor parâmetros para a seqüência do ensino é uma tarefa particularmente complicada em se tratando de educação de jovens e adultos. É bastante comum a existência de turmas multisseriadas, reunindo pessoas com diferentes níveis de domínio de escrita e da Matemática, de conhecimentos sobre a sociedade e a natureza. Mesmo nos programas cujos critérios de enturmação obedecem a alguma seriação, a heterogeneidade é sempre uma característica forte dos grupos.

Denunciava-se o caráter superficial do aprendizado que se efetivava no curto período da alfabetização, a inadequação do método para a população adulta e para as diferentes regiões do país. Todas essas críticas convergiram para uma nova visão sobre o problema do analfabetismo e para a consolidação de um novo paradigma pedagógico para a educação de adultos, cuja referencia principal foi o educador pernambucano Paulo Freire.

O pensamento pedagógico de Paulo Freire, inspiraram os principais programas de alfabetização e educação popular que se realizaram no país no início dos anos 60.

O paradigma pedagógico que se construiu nessas práticas baseava-se num novo entendimento da relação entre a problemática educacional e a problemática social.

A alfabetização e a educação de base de adultos deveriam partir sempre de um exame crítico da realidade existencial dos educandos, da identificação das origens de seus problemas e das possibilidades de superá-los.

Paulo Freire referia-se a uma consciência ingênua ou intransitiva, herança de uma sociedade fechada, agrária e oligarquia, que deveria ser transformada em consciência crítica necessária ao engajamento ativo no desenvolvimento político e econômico da nação.

CAPÍTULO II - A Visita x Fundamentação teórica

Paulo Freire elaborou uma proposta de alfabetização de adultos conscientizadora, cujo princípio básico pode ser traduzido numa frase sua que ficou célebre: “A leitura do mundo precede a leitura da palavra”. Desse universo, o alfabetizador deveria selecionar as palavras com maio densidade de sentido, que expressassem as situações existenciais mais importantes. Depois, era necessário selecionar um conjunto que contivesse os diversos padrões silábicos da língua e organizá-los segundo o grau de complexidade desses padrões.

Essas seriam as palavras geradoras, a partir das quais se realizaria tanto o estudo da escrita e leitura como o da realidade. Antes de entrar no estudo dessas palavras geradora, Paulo Freire propunha ainda um momento inicial em que o conteúdo do diálogo educativo girava em torno do conceito antropológico da cultura.

O objetivo era antes mesmo de iniciar o aprendizado da escrita, levar o educando a assumir-se como sujeito de sua aprendizagem, como ser capaz e responsável. Tratava-se de também de ultrapassar uma compreensão mágica da realidade e desmistificar a cultura letrada, na qual o educando estaria se iniciando, as palavras geradoras seriam substituídas por temas geradores, a partir dos quais os alfabetizados aprofundariam a análise de seus problemas, preferencialmente já se engajando em atividades comunitárias ou associativas.

A visita: o que nos levou a elaborar o trabalho com os alunos da EJA e aplicar uma diagnóstica e jogos pedagógicos, foi procurar expressar o universo vivencial dos alfabetizados, de modo a descobrir de que forma esses alunos aprendem e como aprendem, entender o processo de alfabetização pelo qual os alunos passam e diagnosticar os níveis de escrita, valorizando o domínio da cultura letrada que os mesmos compreendem e atuam no mundo em que vivem.
Os jogos de alfabetização que aplicamos com esses alunos, vêm de encontro com a proposta elabora por Paulo Freire, no qual, foram aplicados jogos que continham palavras geradoras acompanhadas de imagens e com sílabas derivadas das palavras, acrescidas de pequenas frases para leitura.

Foi um projeto muito significativo, pois passamos a compreender e conhecer o processo de alfabetização dos alunos da EJA.

CAPÍTULO III - A Metodologia

A nossa primeira visita a sala da EJA foi no dia 03/04/2008, no qual aplicamos uma diagnóstica com uma lista contendo 5 palavras de coisas que poderiam ser compradas no mercado, foram formados grupos de 4 a 5 alunos e cada uma das cinco estudante ficaram com um grupo, era ditado uma palavra de cada vez e logo em seguida da escrita das palavras os alunos teriam que ler o que escreveram indicando cada sílabas, os mesmos utilizaram uma folha de papel sulfite para escreverem e logo após a aplicação da diagnóstica fizemos uma pesquisa com os alunos que estavam em cada grupo.
Na segunda visita realizada um mês depois, aplicamos os jogos pedagógicos, nos quais, continham caixas de fósforos com figuras coladas em cima e as letras dentro das caixas para formarem o nome das figuras, distribuímos várias sílabas tendo os alunos que formarem palavras e figuras de EVA com letras soltas, que teriam que serem encaixas formando os nomes de cada uma.

Com as sílabas soltas os alunos utilizaram-na para formação de frases e justificaram com a leitura logo em seguida, foi uma aplicação muito valorizada por eles, nos quais, os mesmos gostaram e aprenderam muito naquele momento, adquirindo breves conhecimentos sobre a escrita e a leitura. Todos os jogos foram realizados em grupo de 4 a 5 alunos e cada uma de nós ficamos com um grupo, no qual, acompanhamos e interferirmos nas aplicações dos jogos quando era necessário.


Conclusão

Os alunos da EJA chegam à escola com uma bagagem de conhecimentos adquiridos ao longo de histórias de vida as mais diversas, os mesmos trazem conhecimentos de crenças e valores já constituídos e é partir desses valores e de suas experiências de vida e visões de mundo que cada jovem e adulto pode se apropriar das aprendizagens escolares de modo crítico e original, sempre da perspectiva de ampliar sua compreensão, seus meios de ação e interação no mundo.

Ao observarmos a sala da EJA, no qual, aplicamos os jogos de alfabetização concluímos que os alunos já possuem alguns conhecimentos sobre o mundo letrado que adquiriram em breves passagens pela escola ou na realização de atividades cotidianas, sendo estas atividades muito precária, limitadas e dependentes.

Vimos que, apesar desses alunos pouco letrados possuírem muitos conhecimentos válidos e úteis, eles estão excluídos de outras muitas possibilidades que a nossa cultura oferece, muitas vezes eles interpretam essa desvantagem como incapacidade, a ponto de não reconhecerem como tal aquilo que sabem ser conhecimento útil e válido.
A exclusão do conhecimento que se adquire na escola marca essas pessoas profundamente pela imagem que fazem de si e pelo estigma que a sociedade lhes impõe, É por isso que muitas delas, mesmo tendo responsabilidades no trabalho e em casa, decidem estudar.

Esse projeto foi muito significativo para a nossa profissão e para os nossos conhecimentos, fazendo com que pudéssemos aprender mais e conhecermos umas das qualidades essenciais do educador de jovens e adultos, que é a capacidade de solidarizar-se com os educandos, a disposição de encarar dificuldades como desafios estimulantes e favorecer a autonomia dos mesmos, ajudando-os a tomar consciência de como a aprendizagem se realiza.


Para saber mais: BRASIL, Educação para jovens e adultos - Ensino Fundamental - Proposta curricular - 1º segmento, São Paulo/Brasília, 2001

Um comentário:

Anônimo disse...

Cara colega! bom saber que mesmo com tanto tempo lecionando vc nao perdeu a vontade de aprender....Parabens....Essa turma de EJA hoje perdeu sua identidade...hj temos adolescentes repetentes juntos com os adultos que querem aprender. Sinto muita dificuldade pois as propostas que lanço sao sempre aceitas pelos adultos e os adolescentes nunca querem participar...Por gentileza se tiver algum relato me conte pra poder melhorar minha turma...Obrigada Andreya - Brasilia

Pensamento Infantil - A narrativa da criança